
deslizei vagarosamente nas palavras frágeis da vida. arrastei o olhar, depois de mim e parei na sombria manhã cinzenta. não entrei. o cansaço deixou-me presa à rua tingida de afectos. bebi apressadamente as sombras exaustas, penetrei num olhar bêbado de maresia e pressenti a aproximação do mar. deambulei sem medos, sem fulgir o dia , deambulei até sentir a voz do mar. centrifuguei o peso da pressão que sentia no corpo, murmurando através do silêncio, o tempo íngreme do instinto que me fazia prosseguir. ocultei com as mãos a cara chamejante, e segui o destino melancolicamente. sabia que chamava por mim, o meu nome era repetido insistentemente, numa voz pálida mas volúpia. o sangue saltava das veias fervente, tinha um aprazível sabor a sal. resvalei até ao limite da efígie, abraçou-me a onda, num terno vacilar.
deixei a maré abrigar-me, fui vicio, amor ardente, excitação, fui eu e ele, dentro do teu olhar. hoje sou o lugar misterioso que dormita dentro de ti.
l.maltez